quinta-feira, 18 de abril de 2019

CORPO, LUGAR-CORPO

Princípio de Linha V



Um corpo é um mapa, dizes, quando os nossos corpos são o mesmo lugar-corpo. Quando o que se vê é o que se sente sem se ver.


Está bem, nada a opor. Mas a afirmação é pouco interessante, não achas? Demasiado óbvia em relação à fotografia escolhida para a ilustrar, a qual, sendo estranha e talvez feia para alguns, nada acrescenta à ideia visual propriamente dita. 



Mas se tu disseres, o meu corpo é o teu mapa, muda a percepção das ideias de ambas as frases. 

A narrativa, pelo simbolismo que evidencia e pelo seu explícito conteúdo metafórico, poderá disparar o imaginário de cada um de nós em inúmeras direcções. Além disso consubstancia a imagem algo chocante, que se torna até bela, em correspondência com o pensamento que as palavras podem evocar. 

Mas o que me ocorre imediatamente, sem atender a grandes reflexões, é a seguinte ideia-chave: se cada uma das duas afirmações fosse o verso inicial de dois poemas diferentes, eu leria o segundo e não perderia tempo com o primeiro. A diferença é subtil, mas são pormenores como estes que iluminam os caminhos da poesia, quando a leio ou escrevo. Pequenos mapas conceptuais com súbitos, deslumbres. 

Na escrita e na leitura de poemas, é necessário ter um mapa, para não nos perdermos na escuridão da mediocridade estética. O poder da estética, essa avassaladora convulsão interior visível no exterior.

Sem comentários:

Enviar um comentário

AUTO-BIOGRAFIA POÉTICA