Um corpo é um mapa, dizes, quando os nossos corpos são o mesmo lugar-corpo. Quando o que se vê é o que se sente sem se ver.
Está bem, nada a opor. Mas a afirmação é pouco
interessante, não achas? Demasiado óbvia em relação à fotografia escolhida para a
ilustrar, a qual, sendo estranha e talvez feia para alguns, nada acrescenta à
ideia visual propriamente dita.
Mas se tu disseres, o meu corpo é o teu mapa, muda a
percepção das ideias de ambas as frases.
A narrativa, pelo simbolismo que evidencia e
pelo seu explícito conteúdo metafórico, poderá
disparar o imaginário de cada um de nós em inúmeras direcções. Além disso consubstancia
a imagem algo chocante, que se torna até bela, em correspondência com o
pensamento que as palavras podem evocar.
Mas o que me ocorre imediatamente, sem atender a
grandes reflexões, é a seguinte ideia-chave: se cada uma das duas afirmações
fosse o verso inicial de dois poemas diferentes, eu leria o segundo e não
perderia tempo com o primeiro. A diferença é subtil, mas são pormenores como
estes que iluminam os caminhos da poesia, quando a leio ou escrevo. Pequenos
mapas conceptuais com súbitos, deslumbres.
Na escrita e na leitura de poemas, é
necessário ter um mapa, para não nos perdermos na escuridão da mediocridade
estética. O poder da estética, essa avassaladora convulsão interior visível no
exterior.
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