sábado, 24 de setembro de 2022

PERFIL - Fernando Echevarría

- Uma via analítica para a poesia de Fernando Echevarría -                                                                                

 

Fernando Echevarría - ALBERTO AJA/EPA

     A poesia de Fernando Echevarría implica uma aproximação cautelosa por parte do leitor contemporâneo. Neste reino da criação que por vezes nos parece assombrar pelo muito que nada em nós inscreve, surgem iluminações nos caminhos do entendimento poético, as quais são imprescindíveis à sobrevivência espiritual da humanidade. Fernando Echevarría é uma dessas iluminações, um passaporte para o engrandecimento de uma estética da linguagem que dificilmente encontra um brilho paralelo.

     Não importa aqui catalogar a poesia de Fernando Echevarría, nem tão pouco insistir na densidade dos seus poemas como frequentemente encontramos em relatos esparsos acerca da sua escrita; parece-me mais interessante imergir nas palavras do poeta, escavar nos seus versos e tentar compreender essas irradiações significativas. Quantos mundos cabem neste mundo? O mundo da poesia reflexiva e da especulação filosófica; o mundo da meditação que corresponde a diversos planos da realidade; o mundo da poesia como instrumento facilitador de conhecimento e como decifração de uma dimensão absoluta perante a verdade metafísica de um dicionário echevarriano. Cada palavra é um mundo do tamanho de um imenso vagar. Assim deve a sua poesia ser lida: vagarosamente. A paciência de uma poesia profética enquanto viagem de um nómada pelas paisagens do espírito, que são, afinal, as paisagens do mundo humano. O pensamento pensou-se até ao fundo de si (…), anuncia o poeta. Não há pressa porque é preciso valorizar não só o poema, mas cada palavra, bem como o rigor e a perfeição das ideias implícitas através de uma linguagem purificada no processo, por um lado, e pura no objecto resultante, por outro, logo, pautada pela artisticidade poética sem demagogia crítica.

     Fernando Echevarría pertence à galeria dos magnânimos e é respeitado num círculo mais erudito do panorama literário. Nasceu a 26 de Fevereiro de 1929 e faleceu a 4 de Outubro de 2021. Poeta generoso em produção poética, publicou mais de duas dezenas de obras nas Edições Afrontamento, sendo o seu último livro de 2018 – Via Analítica. Poeta discreto nas aparições públicas, apesar dos inúmeros prémios, galardões e distinções que recebeu. 

     Leio Fernando Echevarría e torno-me íntima da sua transparência, colocando-me à mercê de um horizonte eterno que é o logos do requinte e o topos da dignidade poética. Ao dialogar com o poeta na sombra, ele responde com a luz dos seus poemas. E, todavia, existe vertigem nessa miragem, uma certa patologia benigna e cintilante. O mundo parece gasto, mas pode sempre desabrochar de novo.

     Há o silêncio prévio. Há o/ que se funda no respeito/ da inteligência. Mas ambos/ aguardam que o pensamento/ ou o mova o estado/ diverso que vem de dentro. / O mundo, num, está gasto;/ no outro abre-se o aberto/ a horizontes onde o fausto/ deslumbra o conhecimento/ tão docemente que andarmos/ é entrar a padecê-lo. / Ou ficamos rodeados/ de uma luz de estarmos vendo/ o que nos chega. E é santo/ pois se ilumina de dentro. *

     Poderia dizer-te que todo o poema é silêncio. A seta apontada às palavras provoca uma reacção quase sempre adversa. Questionar a sombra e o horizonte, o tédio e o desembarque dos sentimentos junto dos outros, questionar tudo – é a razão de estarmos aqui, com essa arma apontada à cabeça. Todo o poema é silêncio imposto pelo ruído de fundo, essa voz humana que ressoa, incessantemente, antes de chegares à saída da linguagem.

     Quem tem tempo/ vê mais além, onde tudo/ irrompe do pensamento/ para aí voltar a ver/ a fonte de ver por dentro. / Então sobe a liberdade. / E é dela que começa a ver-se o mundo da análise/ e a sua penúria aberta/ de onde flui, à justa, quase/ toda a glória que a pensa. *

     O princípio parecia feliz, no poema. Queres escrever um poema, mas as coisas da vida intrometem-se e nidificam em versos soltos que ainda não são o poema. Fica a palavra “poema” a bater na cabeça, no coração, nas mãos. Somos tão livres no interior esplendoroso que se abre ao pensamento. A indagação precede a cura.

     O que excede espera nome/ adequado a esse excesso. / Não mensura. Desenvolve/ ímpeto de pensamento/ a alargar-se do fenómeno/ para o infinito dentro. / Um dentro que se comove/ sem qualquer espaço ou tempo. *

     Fica o corpo num arco de pânico, esticado até ao limite da forma. E o pensamento enaltece a palavra, em consequência do conflito endémico. Ímpetos, súbitos, implosões do corpo finito. O espaço e o tempo ausentam-se na impossibilidade de dar resposta ao sintoma poético. Sabes, quando se está morto, sabe-se tudo.

     Ausentando-se foi, para a procura/ ir construindo um espaço/ onde fosse possível erguer uma/ inteligência que sofresse o espanto. / Aí, seria parecer fecunda/ deslumbração a recolher o acto/ que, do fundo de si mesma, exuma. / E desenreda seu sentido estranho/ de forma a se abstrair a transparência/ do desenredamento. Do obstáculo/ para o a ver aparecer certeza/ próxima do procurado. *

     Corpos plantados no fundo de um lago, à deriva. Sinto o movimento da língua quando as palavras caminham sobre ela, na insegurança dos seus significados, na especulação filosófica que me conforta. Quero compreender esses sentidos ocultos, mas rendo-me a esta avassaladora preocupação: quem está a atravessar a minha ponte?

     A teoria comporta/ o seu comportamento explícito. / Sendo palavra e imóvel, / ergueu, lento, o edifício/ onde reside a paciência/ consubstancial do espírito. / Ambos, conjuntos, são obra. / Edificação, prodígio/ exemplar, que activa e serve/ o milagroso equilíbrio/ em cujo espírito opera/ o esplendor conseguido. / Como é sensível a terra/ assim habitada. O ritmo/ de intimidade e estreia/ nutre-se quase de símbolo. / Símbolo de inteligência/ onde cumpre o espírito. *

     Sensação espiralada e penetrante. Harmonia densa do acrónimo – ovo – que é vida: a divisão das células, o rizoma, a vida. Estando a palavra deitada sobre uma linha alta do espírito, a obra poética é a verticalidade do pensamento magnânimo, que se vai elevando ao cosmos, mas sem nunca se desligar do cordão umbilical que o prende à terra, ao corpo vivo. Nunca é o mesmo poema, mas é sempre a mesma forma de vida, íntima, inédita, simbólica. Vida espiritual em corpo de sangue, ramificada no esplendor da palavra. Torna-se assim possível remover limites e fronteiras ao que é hermético, tornando o ser humano inconfinável, mas universal na sua condição latente. Há um coração que bate, há uma cabeça que pensa, há um espírito que se ramifica e é árvore de conhecimento.

* Poemas de Fernando Echevarría (1929-2021), in Via Analítica, 2018, Edições Afrontamento


Adília César

sábado, 3 de setembro de 2022

PERFIL - Fiama Hasse Pais Brandão

 A perfeição alucinatória de Fiama -


Guardado no silêncio mais espesso,

O tempo faz e desfaz a vida. *1

Fiama Hasse Pais Brandão *2


Fiama Hasse Pais Brandão

Fiama. Um nome dado à voz que se assume como uma das mais radicais do século XX, predestinada à magia da “palavra infinita”, a chama que nunca perece: Fiama foi, é e será uma chama poética, através de uma linguagem original,  que começou por ser complexa, depois ousada e finalmente, muito simples e despojada, como afirmou o poeta Gastão Cruz.

Fiama Hasse Pais Brandão nasceu a 15 de Agosto de 1938 e faleceu a 20 de Janeiro de 2007, vítima de doença prolongada. Estreou-se em 1957 com Em Cada Pedra um Voo Imóvel. Depois, em partilha com Luiza Neto Jorge, Casimiro de Brito, Maria Teresa Horta e Gastão Cruz, quando publica Morfismos na colectânea Poesia 61. Tinha um “ar de senhora frágil, simbolista do fim do século XIX, mas era uma mulher de armas”, como realça Jorge Silva Melo, reforçando que a sua faceta irritadiça e inflamada é “um verbo que lhe vai bem”, daí o simbolismo do seu nome.

Imaginemos agora uma janela aberta por onde entra a brisa do fim da tarde, no limiar do crepúsculo. Eduardo Prado Coelho sugere este momento do dia como o melhor para ler a poesia de Fiama. A casa recolhida em redor da figura delicada, debruçada sobre o parapeito. A brisa é um corpo esguio capaz de movimentos sinuosos e remotos, mas indeléveis. Sentimos que tudo está concluído no limite do círculo vivo e ao mesmo tempo aberto ao êxtase da curva infinita do horizonte, a eternidade antiga que vem de outros séculos. Se a indagação sobre esse tempo clássico que não acaba dilacera-nos e angustia-nos, também é verdade que a cada passo nosso levado por cada poema seu, instiga à reconciliação com a modernidade. Tudo tem o seu lugar: a palavra, o tempo, a sensação, a viagem, o espanto. Agora, todas as coisas são irreversíveis, como a água que escorre da fonte, como o verso que brota do pensamento para o exterior. Quando o lugar da linguagem não é convocado, o idioma não nos pertence. Fiama vai mais longe e reclama: “Porque o idioma / é fechado e insondável em cada criatura, / porque cada nação é o berço de uma língua / e os meus poemas noutra língua não são meus. / Quando viajamos no mundo não sabemos quem somos”. *3

A infância vivida na Quinta de Carcavelos – a Vivenda Azul – está sempre presente na memória dos seus poemas. Fiama é agora uma mulher madura, culta, introspectiva, mas já foi uma menina. E o que  mistura-se com o que viu, sabe que o mundo se transforma a cada segundo, que a flor parecendo aberta, murcha e fecha-se pouco a pouco; que a borboleta parecendo em voo, sucumbe no último instante do dia. Ela sabe que apenas a criação estética pode guardar o que vale a pena, ainda que esses fragmentos ocasionais instiguem um empreendimento árduo de reformulações mentais, outros caminhos menos concretos de sangue ou vísceras: o corpo inteiro das coisas vivas e inertes, podendo ser um lugar ameno, é uma escravidão à espera da morte.

Sou capaz de conversar com Fiama, mesmo sem nunca a ter conhecido, com a intenção de a entrevistar, de a questionar sobre o seu processo de escrita e a evolução da sua poesia, que muito admiro; e creio que ela pretende ouvir-me, compreender o que dela se espera. Há até uma certa ternura na sua aura, tudo naquele ser respira poesia e me seduz. De repente, Fiama levanta a mão e interrompe-me, parecendo enfadada e surpreendentemente afogueada ao mesmo tempo:

- Pode repetir? Parece-me demasiado inflectida, essa descrição relativa à minha pessoa. Veja bem minha querida, a única entrevista está nos poemas… Quer mesmo desvendar a minha alucinação?

Uma absoluta presença de espírito abre os olhos à visão do poema e a poetisa reivindica uma vontade que não lhe cabe no corpo frágil, onde a doença já se instalou. Ainda vejo o seu “sorriso quase infantil”, como recorda Jorge Silva Melo. A sua natureza humana funde-se com a natureza em redor, doméstica e orgânica, como tentativa de destacar a transitoriedade fugaz das “coisas” que observa, que percepciona, e com a qual se compromete para a desvendar. É evidente a construção de imagens poéticas onde surge o realce da finitude, da morte. Sendo visível no decurso dos dias e das noites, a natureza não compensa a necessidade de respostas, não conclui as inquirições das paisagens miméticas e culturais: Fiama aprisiona uma lírica reflexiva que nos provoca, que nos inquieta, que nos verga, que nos separa do todo. Mas nem sempre foi assim. Começara palavra a palavra, confinando a poesia a uma única imagem que coincidia quase sempre com uma única palavra, assim: “água significa ave”. Mas depois, na década de 60, aconteceu “a grande sucção do cérebro para a fronte e para a testa como um lago” e os versos tornaram-se mais longos, a poesia assumia-se como um corpo expansivo no seu pensamento. A este respeito, Veiga Ferreira constatou que os poemas de Fiama nasciam de quase tudo, sendo escritos em papéis soltos e posteriormente dactilografados, com poucas emendas.

“Escrevo como um animal, mas com menor perfeição alucinatória” *4, invoca Fiama. Logo, não há consolação nem conforto nos versos da obra Área Branca, esse cenário do falsamente bucólico, que apesar de tudo nos arrebata. O locus terribilis por oposição ao locus amoenus, sendo que o ameno é uma falsa sensação de refúgio contra o tempo e a mortalidade. Quem está vivo vê sempre a morte, vê sempre o branco da luz do fim. É para me salvar que questiono Fiama. As suas respostas conduzem à solidão metafórica. E continua: “Não sei imprimir as três linhas / convergentes do pé da gaivota, nem os pomos /leves da pata dos felinos. Só de uma forma rudimentar / escrevo, e estou a predestinar-me ao fim”. Fiama questiona-se sobre duas inevitabilidades: por um lado, a perplexidade do código escrito, que sendo complexo é ao mesmo tempo rudimentar e pouco clarificante das ideias, pelo menos em relação às marcas perfeitas deixadas pelos animais; por outro lado, a sua compulsão para poetizar destrói a vida, impele-a para um fim inevitável. Estaremos realmente a viver, ou apenas a morrer devagar?

Fiama insiste: “Depois de tantos séculos posso afirmar / que a escrita é uma escravidão dura. / Sei que é inútil e desumano mover as mãos / assim. Nem estou convicta de que seja digno / escrever desta maneira; é uma manufactura triste, / quando as mãos podiam apenas escavar / na terra ou no corpo. Podem ficar as palavras / somente na fita magnética como nas cabeças loiras”. A poetisa põe de parte a eventual lucidez da sua escrita, a preponderância do erudito na linguagem escrita dos homens, aperfeiçoada desde há tanto tempo. Contudo, esse reformular contínuo dos códigos não validam as tentativas – os poemas – de concederem humanidade ao acto de escrever, pois mais dignos são os outros animais que não escrevem.

O poema invoca a infância pura: “Nada na infância nos deveria obrigar / a traçar as patas dos roedores repelentes / que são letras. O som da boca deve escrever-se / no écran, com a nova razão da nova máquina / da realidade. Na areia, porém, ou / no mosaico molhado / terei de aperfeiçoar a minha pegada. Aproximar / dela a mão até alcançar a harmonia do trilho / do escaravelho. Uma fieira de montículos / e ranhuras até ao infinito que para ele é o mar”. A natureza que a cerca, ainda que visceral e alucinatória, é perfeita em todo o seu equilíbrio e Fiama pretende aperfeiçoar o passo, o avanço, o movimento do corpo, até alcançar a harmonia dos animais consentidos, como se a poesia não precisasse de ser escrita. E se os poemas fossem apenas ecos do grito imperial da gaivota?

Dou as mãos a Fiama: ela está tão próxima, tão íntima, a mostrar-me generosamente todos os inícios da sua existência: ela é humana, profundamente humana; ela é o vento omnipresente, o tempo cósmico de outros séculos, a realidade poética que tanto almejo mas não consigo alcançar. Decido tratá-la por tu. Quero entender como o poema descreve a realidade ou se o poema é a tua realidade, a falência do eu criativo como uma doença incurável. Não ousarei inventar falsas questões: Fiama diz que a única resposta está no poema introspectivo, escrevendo os 27 versos descomunais e abstractos para eu os declamar a seguir à sua criação, a fala em voz alta numa linha de escrita contínua e também, ela mesma, alucinatória e imaginada, uma recriação a partir dos poemas que leio e escavo repetidamente, a partir do tempo vivido. Pode a luz resistir à mais obscura sombra sobre o papel branco?

A melancolia de Fiama sobressai nas reflexões que reitera sobre a evolução da escrita enquanto mito, ou seja, a ineficácia do acto escrevente tendo em conta a sua inutilidade, contrapondo-se à fala e à visão, e sente a solidão do seu entendimento. A aprendizagem é urgente e potenciadora da paz de espírito: “Há quantos séculos os seres humanos se aprisionaram / no mito da caligrafia. Como tem sido penoso esse gesto, / há tanto tempo, e só eu o renego, porque sinto / a opressão com que alguém o tornou mais nobre / do que a minha fala ou a minha visão, únicas / propensões inatas. Prefiro aprender pormenorizadamente / a conservar uma impressão digital. Há um pensamento / abstrato e maquinal que decora a História com inteligência / mecânica, e por isso é supérfluo escrever. Só alguns / raros escribas, como os desenhadores de máquinas, / seriam necessários. E poderia descansar a cabeça / no regaço da lama”.

Também Fiama concretiza a sua busca intencional de liberdade, voltando-se para o passado com o propósito de encontrar o futuro da escrita, num estado de completo dilaceramento interior. Ela escreve fora do corpo; ela sofre. E o movimento das mãos não é gesto utilitário de cavar a terra nem tão-pouco coreográfico das batidas por dentro do peito e no latejar das têmporas: é uma prisão, a escravidão do trabalho poético. A melancolia instala-se no processo de busca da origem, na recuperação do tempo tradicional e pacífico da infância. Escrever é uma tortura, dentro e fora da tradição que conhece e da necessidade de alterar essa mesma tradição, ou seja, transformar o passado num futuro real e não apenas linear. Fiama está na sombra e a paisagem que vislumbra é caracterizada por fragmentos fragmentados: divagações diluídas, perdidas nas sombras: “Ensinaria à infância a gravar / no pó de talco a palma das mãos e a considerar as palavras / modulações da voz pura, sem a mancha embaciada / compacta que paira diante dos olhos sempre / que se fala. A mancha que se desloca no raio da visão / e desbota qualquer imagem como a chama de uma vela / com a fuligem constante a torná-la opaca”.

Fiama sabe que ao longo da História a escrita condicionou as ideias, sendo que os pergaminhos e os livros fixaram no papel o que alguns escribas entenderam registar. A escrita não fixou, portanto, a fala ou a visão verdadeiras e reais, comuns a toda a natureza: a pedra, a formiga, a árvore, a areia, o mar, todos falam e vêem, sem necessidade de códigos escritos. Ela sente a opressão infligida aos escribas, esses escravos mecânicos e supérfluos da linguagem. Fiama idolatra a infância, onde mora a paz dos nomes nos fios da memória. Fiama constrói a matriz da casa, do mar, da folha, do bicho. Fiama escreve, escreve sempre: recorda, percepciona, enreda, desvenda, sofre e reconcilia-se com o mundo e as coisas; é nessa escrita alucinatória que encontramos a perfeição perfeita da linguagem poética.

A última versão da Obra Breve de Fiama Hasse Pais Brandão contém 766 páginas de uma poesia clara e obscura que atravessam “um mundo ao mesmo tempo anterior ao olhar e esperando por ele para ser decifrado. Esse mundo não é um cosmos pleonasticamente harmonioso, desde sempre votado à contemplação e a um óbvio sentido. É só um mundo escrito em hieróglifos, finito e inesgotável na sua minúcia” *5. O último poema do livro, datado de Agosto de 2000, termina com estes versos, junto ao mar do Algarve: “Hoje, / meu dia, o coração e o dia rejubilam.” 

*1 - In Cenas Vivas (2000), Relógio d´Água.

*2 - Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, 15 de agosto de 1938 – Lisboa, 20 de janeiro de 2007) foi uma autora multifacetada: poetisa, dramaturga, ficcionista, ensaísta e tradutora portuguesa; estudou Filologia Germânica na Universidade de Lisboa; exerceu actividade de investigação na área da literatura e da linguística.

*3 - In Cenas Vivas (2000), Relógio d´Água.

*4 - In Obra Breve (1991), Editorial Teorema: Área Branca, Rosas (1976-1979).

*5 - In Prefácio de Eduardo Lourenço à Obra Breve (2017), Assírio & Alvim.

Obra Breve (1991), Editorial Teorema

  

Obra Breve (2017), Assírio & Alvim

Adília César

in https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo_354

AUTO-BIOGRAFIA POÉTICA