Adília
César nasceu no século passado, em Lagos, Portugal. Só tem
uma ruga – a da linha de escrita. Se não se chamasse Adília César o seu nome
seria Baudília ou Monadília, e depois de ter descoberto a Área Branca perfeita e imaculada, naturalmente
chamar-se-ia Fiamadília. Adília é singular – o seu ser está na primeira pessoa.
Tem uma voz parecida com os poemas que escreve e ama de olhos bem abertos.
Nunca escreveu uma ode, nem quando está em viagem, mas é capaz de despertar a
Europa num só verso. Adília é o lugar-corpo da poesia com uma agulha
no coração. Está bem acordada durante o dia e não toma Xanax; talvez por
isso o seu lado negro esteja sempre à espreita, em lúcido delirium. Detesta vermes e poluição
sonora. Quando tropeça e cai, levanta-se muito rapidamente para ninguém ver: é o
que se ergue do fogo. Nunca recebeu postais de férias nem telegramas com
notícias amargas. Adília podia ser uma Deusa: tem um discurso sonhador e
escreve poemas contra o tempo o tempo. Desde criança que ela deseja ser uma
Sereia coberta de pérolas, mas a Ria Formosa ainda não lhe fez a vontade. Em
seu redor, o gelo vai derretendo. Adília, essa palavra nocturna e negra. É fundadora da Sociedade dos Espaços
Vazios Entre As Palavras.
sexta-feira, 1 de setembro de 2023
AUTO-BIOGRAFIA POÉTICA
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