quinta-feira, 18 de abril de 2019

MORRESTE-ME

Lua de Marfim, 2016

morreste-me


morreste-me
e eu improviso uma substituição de ti
chamo um nome parecido ao teu
como se fosse o som delirante da nossa intimidade
um portão aberto à tua ausência

morreste-me
e eu invento uma nova forma
de olhar aquilo que tu já não vês
uma miragem
uma secura dos olhos

piso a terra do jardim onde te enterrei
terra fértil
os vermes a construírem mapas de ti
as ervas daninhas da sobrevivência
acalmam o pó do meu sofrimento

mas morreste-me
e os malditos vermes devoram as palavras perdidas
nos pequenos caminhos da carne)


(Adília César, in O que se ergue do fogo, Lua de Marfim, 2016)

*

me has muerto

me has muerto
y yo improviso un reemplazo de ti
llamo un nombre parecido al tuyo
como si fuera el sonido delirante de nuestra intimidad
una puerta abierta a tu ausencia

me has muerto
y yo invento una nueva forma
de mirar lo que ya no ves
un espejismo
una sequedad de los ojos

piso la tierra del jardin donde te conocí
tierra fértil
los gusanos construyendo mapas de ti
las malas hiervas de la supervivência
calman el polvo de mi sufrimiento

pero me has muerto
y los malditos gusanos devoran las palabras perdidas
en los pequeños cenderos de la carne


(Tradução de Fernando Pessanha)

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