terça-feira, 25 de julho de 2023

I FLIQ 2016 - Festival Literário Internacional de Querença

O 1º FLIQ - Festival Literário Internacional de Querença - teve lugar no Algarve, a 6 e 7 de agosto de 2016. 

Foi uma ideia, um sonho de Luís Guerreiro (1960-2017), o "Engenheiro das Letras". 


"Aos que nos dão raízes, sombras ou palavras."


No catálogo do evento, organizado por Patrícia de Jesus Palma, conta-se toda a história do FLIQ: propósitos, actores, apresentações, exposição e, principalmente, uma grande homenagem ao poeta Casimiro de Brito.

Este foi o meu contributo, registado no referido catálogo.


Adília César, in Catálogo FLIQ 2016
 

OS POETAS QUE ESCREVEM (PARA) O FUTURO

O poeta que escreve para o futuro é invisível no presente e já vive no futuro. É lá que se situa a sua zona de desconforto. No corpo e no pensamento dos poetas que transgridem, moram os poemas do futuro. O caos do desconforto é uma casa sem portas nem janelas. Nos silêncios que gritam, abrem-se as portas e as janelas que antes não sabíamos que existiam.

O poeta que escreve para o futuro retorna uma e outra vez ao tempo presente para deixar cair as camadas inúteis e exibir sem pudor a sua nudez interior, o corpo do poema. Mesmo que esteja inquieto ou apavorado, caminha sobre as dúvidas da sua existência e as brasas da consciência do mundo. Sente a tortura da melancolia e das dores dessa passagem, mas mesmo assim não desiste. Transcende a vulgar realidade poética ao seu alcance, que parece esculpir-se num bloco de gelo, a derreter à medida que a mediocridade do poema luta em vão pela sua sobrevivência.

Os poemas dos poetas que escrevem para o futuro são exactamente o oposto. São como um rio que desagua e congela na consciência dos homens e aí permanece, assumindo uma geografia emocional e racional, desenhada num mapa exclusivo daqueles intervenientes – aquele poeta e aquele leitor – ainda que situados em pontos tão distantes na linha do tempo, como as extremidades de uma ponte que une dois lados contrários do pensamento, uma ponte para a salvação do poema.

O poeta que escreve para o futuro procura continuamente, até onde a vista já não alcança, os limites da sua existência poética, que vive no seu corpo e no seu pensamento e respira com ele e também respira por ele. Quando morre, é o verbo do corpo eterno no cosmos da memória. Mas por enquanto, ainda está aqui, junto de nós, numa circunstância presente da sua existência poética, a unir-se a outras existências poéticas, outros pontos luminosos conscientes da sua própria incandescência, a diminuir as distâncias que os separam.

Os poetas que escrevem para o futuro são os profetas do mundo e mergulham no escuro para encontrar a claridade.

Adília César

Luís Guerreiro - Jornal Público de 2 de julho de 2017


Luís Guerreiro, "o engenheiro das letras":

Artigo de Idálio Revez in Jornal Público de 2 de julho de 2017


Casimiro de Brito, in Algarve Vivo de 12 de março de 2017

Poesia de Casimiro de Brito em exposição itinerante:

Artigo de Rui Pires Santos no Algarve Vivo de 12 de março de 2017 

Sem comentários:

Enviar um comentário

AUTO-BIOGRAFIA POÉTICA