sábado, 4 de abril de 2020

LER


Escultura de Lucas Simões

Nem mesmo o livro ainda não escrito começa com uma folha em branco. O livro prestes a ver o seu início já está escrito há muito tempo, em descaminhos e angústias universais da humanidade. Pois só assim a intervenção cultural se afirmará na memória das pessoas, contribuindo para a transformação e enriquecimento das ideias humanas. O que é uma acção/atitude idealista, ainda que utópica, sem a ideia/ideário que lhe corresponda? E só assim o acto de ler fará algum sentido.

Ler é assumir o outro como interlocutor em pleno uso do seu direito de comunicar. E é, juntamente com outras apreciações artísticas, um acto concreto de apropriação da competência humana que acarreta a maior responsabilidade perante nós e os outros: o exercício do livre arbítrio.


Escultura de Lucas Simões

Que livros ler?

Quando leio sou capaz de criticar o que leio, ou não?

Quando leio, sou capaz de me apropriar das ideias que me fascinam no percurso da leitura, ou não?

Após a leitura, sou capaz de transmitir o que é significativo e partilhar com os outros, ou não?

Afinal, ler é reescrever o livro lido. O leitor é um co-autor da obra, e provavelmente, a cada livro que lê, já não é a mesma pessoa, é "um outro" mais eficazmente protegido em relação ao vírus da boçalidade. A boçalidade não mata a cultura, mas mói a capacidade de intervenção.

Ler é poder, sejamos poderosos!

Escultura de Lucas Simões

Adília César

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