sexta-feira, 4 de outubro de 2019

CREPÚSCULO


Arte de Isabel Afonso

Sentava-me numa relva de jardim à tua espera:
a frescura acesa e esperançosa no tempo que ainda faltava.
Nos meus lábios
uma citação anónima dava o mote para a ternura da tarde.
Quase um verso.

Escrevi na pele, rasguei bem fundo.
Se eu cravar a unha no sulco
e a dor perdurar para lá desta compreensão
quer dizer que ainda estou viva? Irá o meu coração
saltar do peito aberto à velocidade da luz?
Quase um fio infinito de sangue e pensamento e vida e amor.

Na escrita e no rosto, tu disseste. Mas eu ainda não sabia de ti.
Na escrita e no coração, eu disse. E tu soubeste de mim.

E é no rosto que exponho o meu coração perante o teu poema
enquanto o crepúsculo escrevia um livro inteiro nas bocas verdes.

Adília César

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