- Querido,
não me atires poemas inteiros à boca
eles magoam
como pedras
marcam-me a
pele, os ossos, o sangue e a paciência
pingos de
pesadelos a tingir as horas
preocupa-me
essa tua atitude recorrente
além da minha
falta de poder de encaixe para a má poesia
para nódoas
difíceis uma solução definitiva
mas sem a
eficácia de um bom detergente emocional
(procurei em
todas as lojas de referência
mas está
esgotado)
sinto-me
demasiado impaciente
a não ser que
passes a escrever romances de amor
uma palavra
de cada vez
e escreves
amor em todas as páginas
não te
esqueças, esta regra é muito importante
e podes
atirar-me amor à vontade
com o amor
aguento eu bem
Adília César
in O que se ergue do Fogo, 2016
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