quarta-feira, 17 de abril de 2019

ZONA X


Poema Um

Pablo Picasso - Rapariga em frente ao espelho
Raio X da mesma obra

X é uma incógnita.
Uma incógnita é igual a outra incógnita.
As incógnitas são todas iguais entre si, sendo que
X é igual à quantidade de todas as quantidades de X.

Que X seja igual ao medo.
Assim, X é igual ao tempo das guerras insanas
e o número de mortos aproxima-se do infinito.

Nunca terei o mesmo medo agora do que no futuro.
O futuro do medo é o infinito da morte.
O futuro do alívio é o futuro do mesmo medo.
A morte dos outros é infinita e aceitável,
nunca sendo assim insana, a não ser em tempo de paz.

Mas X ainda é igual à quantidade de todas as quantidades de X.
Que X seja igual à noite escura ou luminosa. Assim, X é o firmamento
das constelações visíveis e invisíveis no imenso breu
e o número de estrelas aproxima-se do mesmo infinito.

Nunca verei todas as estrelas que existem no universo
dos sonhos passados e futuros. O futuro dos sonhos
é infinito como todo o tempo de todos os mundos
e finito como a minha única morte.
O futuro da luz é o passado da escuridão,
mas a escuridão é infinita, nunca sendo assim luminosa,
excepto quando sonho a luz das estrelas em tempo de guerra.

Adília César, in Revista Enfermaria 6
Imagem: Pablo Picasso: Rapariga em frente do espelho, 1932
óleo sobre tela, 162.3 x 130.2 cm, Museum of Modern Art, New York

Sem comentários:

Enviar um comentário

AUTO-BIOGRAFIA POÉTICA