segunda-feira, 15 de abril de 2019

SER OU NÃO SER ULTRACREPIDÁRIO, EIS A QUESTÃO

Actualmente, com a disseminação caótica das notícias que proliferam através dos meios de comunicação, assiste-se a fenómenos de (des)conhecimento mais ou menos interessantes. Na verdade, muita informação, notícias e opiniões que se multiplicam pelas redes e plataformas sociais, como sangue a circular nas veias e artérias do mundo virtual que não raras vezes confundimos com a vida real, induzem em erro o leitor crédulo. Sem qualquer tipo de ironia, creio que esta é bem capaz de ser uma epidemia intelectual dos tempos modernos, propagada pela facilidade com que se fala de matérias sobre as quais pouco ou nada sabemos. Ao confundirmos o exercício do livre arbítrio e do juízo crítico com a impetuosidade de dizer alguma coisa precipitada e pouco acertada sobre o assunto do dia, geralmente sugerido por alguma notícia bombástica veiculada pelos diversos meios de comunicação social ao nosso dispor, mais ou menos tendenciosa ou demagógica, eis-nos chegados à questão central desta crónica de opinião: correr o risco de ser ultracrepidário, sim ou não?


Opinar parece estar na ordem do dia e se há algumas décadas a função profissional do jornalista estava bem definida e era exercida por profissionais da comunicação, hoje em dia poderíamos dizer que “de médico, jornalista e de louco todos temos um pouco”, parafraseando o célebre e antigo provérbio popular.

Custa a acreditar que toda a gente tenha uma palavra a dizer sobre tudo e todos, como se fosse especialista no tema ou assunto em questão. A bem dizer, se não tomarmos as devidas precauções, somos sérios candidatos a ultracrepidário(s), palavra estranha que indica aquele que ou quem dá opiniões sobre um assunto que desconhece ou de que conhece pouco (de acordo com a definição apresentada no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Quais os perigos desta atividade para os outros? Bem, dependerá da competência do receptor para gerir a mensagem do emissor, aceitando ou formulando um contraditório. Da discussão nasce a luz? Às vezes.

A “liberdade de expressão” existe e toda a gente tem o direito a dar a sua opinião sobre tudo e todos (atenção… parece que este conceito não estará bem enunciado, uma vez que a expressão é, por definição, livre, e como tal, não é necessária a redundância…, mas isso é outra discussão que não cabe agora aqui). Na verdade, fazemos uso da tal “liberdade de expressão”, profusamente e sem filtros de sabedoria, nem de validação das afirmações ou inferências consubstanciadas pelo conhecimento. Sim, eu sei, devemos fazer uso desse direito a expressar as nossas opiniões, mas convém pensar antes de falar… Já vai sendo tempo de sermos mais cuidadosos com as opiniões que emitimos publicamente, com as afirmações que veiculamos, principalmente quando as deixamos registadas, no sentido de ultrapassarmos a mera inferência ou opinião pessoal, e este também é um acto responsável de liberdade de expressão. No acto comunicativo, havendo um emissor e um receptor, a nossa responsabilidade passa não só por assumir e saber defender aquilo que afirmamos, mas também por sustentar, através da discussão com o interlocutor, o que provocamos com aquilo que dizemos.

É assim como eu digo porque sim já não chega. É necessário devolver alguma ordem ao caos. Afinal, o conhecimento está ao alcance de todos, só temos de encontrar o caminho certo.

Adília César, in Algarve Informativo Nº 161
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__161

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