Actualmente, com a disseminação caótica
das notícias que proliferam através dos meios de comunicação, assiste-se a
fenómenos de (des)conhecimento mais ou menos interessantes. Na verdade, muita informação,
notícias e opiniões que se multiplicam pelas redes e plataformas sociais, como
sangue a circular nas veias e artérias do mundo virtual que não raras vezes
confundimos com a vida real, induzem em erro o leitor crédulo. Sem qualquer tipo de ironia, creio que esta é bem
capaz de ser uma epidemia intelectual dos tempos modernos, propagada pela
facilidade com que se fala de matérias sobre as quais pouco ou nada sabemos. Ao
confundirmos o exercício do livre arbítrio e do juízo crítico com a impetuosidade
de dizer alguma coisa precipitada e pouco acertada sobre o assunto do dia,
geralmente sugerido por alguma notícia bombástica veiculada pelos diversos
meios de comunicação social ao nosso dispor, mais ou menos tendenciosa ou
demagógica, eis-nos chegados à questão central desta crónica de opinião: correr
o risco de ser ultracrepidário, sim
ou não?
Opinar parece estar na
ordem do dia e se há algumas décadas a função profissional do jornalista estava
bem definida e era exercida por profissionais da comunicação, hoje em dia
poderíamos dizer que “de médico, jornalista e de louco todos temos um pouco”,
parafraseando o célebre e antigo provérbio popular.
Custa a acreditar que toda a gente tenha uma palavra a dizer sobre tudo e todos, como se
fosse especialista no tema ou assunto em questão. A bem dizer, se não tomarmos
as devidas precauções, somos sérios candidatos a ultracrepidário(s), palavra estranha que indica aquele que ou quem dá opiniões sobre um assunto que desconhece ou de que
conhece pouco (de acordo com a definição apresentada no Dicionário Priberam
da Língua Portuguesa). Quais os perigos desta atividade para os outros? Bem,
dependerá da competência do receptor para gerir a mensagem do emissor,
aceitando ou formulando um contraditório. Da discussão nasce a luz? Às vezes.
A “liberdade de expressão” existe e toda a
gente tem o direito a dar a sua opinião sobre tudo e todos (atenção… parece que
este conceito não estará bem enunciado, uma vez que a expressão é, por definição, livre,
e como tal, não é necessária a redundância…, mas isso é outra discussão que não
cabe agora aqui). Na verdade, fazemos uso da tal “liberdade de expressão”,
profusamente e sem filtros de sabedoria, nem de validação das afirmações ou
inferências consubstanciadas pelo conhecimento. Sim, eu sei, devemos fazer uso
desse direito a expressar as nossas opiniões, mas convém pensar antes de falar… Já vai sendo tempo de sermos mais cuidadosos
com as opiniões que emitimos publicamente, com as afirmações que veiculamos,
principalmente quando as deixamos registadas, no sentido de ultrapassarmos a
mera inferência ou opinião pessoal, e este também é um acto responsável de
liberdade de expressão. No acto comunicativo, havendo um emissor e um receptor,
a nossa responsabilidade passa não só por assumir e saber defender aquilo que
afirmamos, mas também por sustentar, através da discussão com o interlocutor, o
que provocamos com aquilo que dizemos.
É
assim como eu digo porque sim já não chega. É
necessário devolver alguma ordem ao caos. Afinal, o conhecimento está ao
alcance de todos, só temos de encontrar o caminho certo.
Adília César, in Algarve Informativo Nº 161
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__161
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__161
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