A
primeira mulher é perturbadora na sua norma clássica.
No
encaixe dos braços e das pernas
a
porta feita de facas acende-se.
Fenda
assimétrica no som de abrir o coração.
Range
a fábula na perturbação da linguagem
e
a palavra eleva-se como um castiçal.
A
pulsão esquece a sua milimétrica geometria e sangra
quando
atravesso a porta sem a abrir.
Entrar
é lembrar e sair é esquecer.
Habito
o corpo do mundo que engole todos os lugares.
II
O
mapa da tragédia é um labirinto de grutas habitadas
pelo
primeiro homem que já não vive aqui.
Desapareceu
no coração que implodiu na minha cabeça.
Doença
sem antídoto. Anti-matéria. Nada.
Não
me lembro do seu nome
nem
do nome do idioma que aprendi na pré-história.
Deondevemosom?
III
Se
o meu coração ainda estiver vivo
é
porque alguém separou o esquecimento do delírio
e
embebedou as miríades de poemas
que
definiam a humanidade.
Decepou
a esperança destes segredos bélicos
às
mãos do guerreiro que morreu nas asas da fénix.
IV
As
ruínas da terra inauguram as planícies feridas.
Na
ausência da palavra, veias e artérias acusam o pensamento.
Arquitectura
de fuga ao desespero. Inútil, indecente filosofia.
Tempo
desenhado na partitura do meu rosto.
Rugas
de uma obra atónita em convalescença.
Refúgios
que aceitam as silhuetas sentimentais da memória.
Confio
nos movimentos solenes das lanças
e
nos vestígios de coisas que se encostam a mim.
A
intensidade dos discursos eternos cansa-me.
Descanso
um século.
V
O
céu aberto enfatiza o novo dia
e
adivinho o contorno do meu corpo em contraluz.
Explodir
por dentro. Espírito. Aura. Oh luz!
É
divina esta sensação lúcida
forma
distinta da alegria de outrora.
Adivinhar
a serenidade de outros infinitos
quando
o sorriso de borboleta era fiel
à
concha pura das minhas mãos de criança.
Paz
íntima.
Adília César, in Revista A Bacana
http://www.abacana.com/oficial/humano-profundamente-humano-de-adilia-cesar
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