Olho o crucifixo e vejo a obsessão do imitador.
Olho a cebola cortada e vejo a mulher a chorar.
Olho o poema e vejo o buraco negro.
Há tanto tempo fascinada pela constelação suprema
que transcrevo a dor, mas não a sinto.
Desde os primeiros anos das palavras
que não consigo alcançar o poema.
O fim de cada verso é retorno ao princípio.
Há sentidos para uma anti-poética que vacilam
nos nós dos dedos, nos fios das teias, nas visões dos talismãs.
Dou de beber aos arbustos que nascem dos dedos
e a lava escorre
len
ta
men
te
sobre a pedra de silêncio que se depositou na língua.
*Pintura de Toko Shinoda (篠 田 桃紅, Shinoda Tōkō , 28 de março de 1913 - 1 de março de 2021)
Breve resumo da sua vida e obra (por Mário Lopes, in Jornal Público de 5 de março de 2021)
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